A solidão é um pouco como uma pessoa inscrever-se num ginásio. Parece sempre boa ideia em teoria, depois na prática é uma coisa diferente. Colada à solidão, vem o conceito de liberdade. Sozinhos, podemos fazer o que quisermos. É com tristeza que compreendemos que isso desemboca rapidamente em maratonas de playstation e pornografia. Acende-se a televisão para ouvir um ruído de fundo de normalidade em casa e ligam-se luzes desnecessárias. Ninguém quer saber, naquele momento, se estamos de pijama às 3 da tarde, a tropeçar em garrafas de cerveja vazias, a hesitar entre ir buscar macdonalds ou aquecer mais uma pizza congelada ou se, pelo contrário, tomámos banho, fizémos a barba, um almoço saudável, fomos à rua comprar o jornal e estamos a escrever, sentados direitos na cadeira. Quando conseguimos normalidade e disciplina na solidão, ficamos orgulhosos, mas também não temos ninguém com quem partilhar o feito e rapidamente mergulhamos no desleixo. É até um pouco doentio manter rigor na solidão. O Bukowski disse "mostrem-me um homem solteiro com uma cozinha impecavelmente arrumada e limpa e eu mostro-vos alguém com qualidades espirituais detestáveis". A diferença que faz ter aquele bicharoco, num dia de chuva, enrolado em cobertores, entretido com as suas coisinhas, no sofá da sala, enquanto brincamos à solidão no escritório.
by Tolan (daqui)
muito bom.
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